Influenciadores evangélicos miram debate político nas redes; veja ranking dos maiores perfis

“Pastor, é pecado ser de esquerda?”, perguntou um internauta no Instagram à estrela gospel André Valadão, liderança da Igreja Batista da Lagoinha, nesta semana. Em tom informal, gravando respostas dentro de um carro para seus 4,8 milhões de seguidores na plataforma, o cantor e pastor aconselhou: “A ideologia de esquerda é contra a palavra de Deus. Pode estudar mais um pouco que você vai ver isso”.

Valadão, que é seguido nas redes pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu clã familiar, é um dos líderes evangélicos mais influentes na internet que está se dedicando a falar sobre política para seus seguidores. Na última semana, ele organizou nos Estados Unidos um evento conservador sobre política e religião com transmissão no YouTube que chegou a juntar no palco o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos e o ministro das Comunicações, Fabio Faria.

Ele é um dos influenciadores digitais evangélicos que aposta em dividir em seus canais as postagens bíblicas com publicações sobre questões políticas e manifestação de apoio a candidatos para as eleições deste ano. Com milhões de seguidores no YouTube, Facebook, Twitter e Instagram, esses líderes religiosos usam de diversas ferramentas para expor suas posições para os seguidores, inclusive fotos com políticos.

Marcos Botelho, que foi um dos primeiros pastores a usar redes sociais (seu canal do Youtube é de 2006), adota uma postura neutra para falar sobre questões políticas. Segundo o influenciador, ao refletir sobre a aplicação dos valores bíblicos na vida das pessoas, é inevitável esbarrar na esfera política, o que “não quer dizer que tem que ser partidário ou apoiador de certas pessoas”.

Ele, que se define como “nem de esquerda, nem de centro e nem de direita, mas nascido do alto (João 3.3)” costuma gravar vídeos respondendo dúvidas de seus seguidores. Porém, Botelho denuncia que alguns pastores acabam virando agentes políticos nas mãos de um projeto de poder.

— Usar esse local e a autoridade pastoral para fazer campanhas, indicar políticos e fazer terrorismo espiritual contra o candidato que discorda é aberração bíblica, se chama voto de cajado — define o influenciador digital.

Atualmente, os maiores canais deste tipo na web são de pastores conservadores e apoiadores do presidente Bolsonaro, segundo levantamento do GLOBO. Estão entre eles o primeiro colocado do ranking, pastor Claudio Duarte, seguido por André Valadão, Silas Malafaia e Lucinho Barreto. Em comum nos quatro, há postagens de apoio ao governo, fotos de participação em atos pró-Bolsonaro como do dia 7 de setembro de 2021 e publicações vilanizando posição políticas de esquerda.

Por outro lado, o pastor Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho, que se define como de esquerda, costuma levantar bandeiras em suas redes ligadas à justiça social e direitos humanos. Em seu Instagram, com 500 mil seguidores, há postagens de apoio ao Movimento dos Sem Terra (MST), fotos com Lula (PT) e diversas críticas ao presidente Bolsonaro.

— Considero saudável as lideranças religiosas se posicionarem desde que baseado no respeito às diferenças, à democracia e ao Estado laico — diz Vieira. — É saudável, quando não se busca tutelar a consciência, a fé e liberdade de pensamento.

Segundo o antropólogo Juliano Spyer, autor do livro “Povo de Deus”, assim como qualquer outro segmento da sociedade, é natural que esse tipo de debate seja pautado pelos líderes evangélicos nas redes sociais. Ele considera que eventuais usos da igreja para projetos de poder são pontuais e ocorrem da mesma forma em outras instituições da sociedade.

— O mundo evangélico é imenso, diverso e assim como qualquer pessoa eles expressam suas opiniões políticas — aponta Spyer.

A mesma visão é compartilhada pelo doutor em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) Kenner Terra:

— Os evangélicos não são uma massa ignorante de manobra. As recentes pesquisas sobre as eleições presidenciais (Lula e Bolsonaro empatam no segmento, segundo o Ipec) mostram que os evangélicos não aceitam acriticamente, tal qual um bloco monolítico, as orientações de seus líderes midiáticos.

Fonte: O Globo

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