As sensações de aconchego, de segurança e de tranquilidade que os abraços podem transmitir são reconhecidos por qualquer um que já demandou pelo gesto. Em momentos de celebração e euforia ou de tristeza e reconforto, envolver-se nos braços de alguém é um ato que, diz a ciência, traz benefícios à saúde e ao bem-estar. Por ora, no entanto, os abraços não são recomendáveis e estão suspensos: a Covid-19 roubou das pessoas esse porto seguro ao tornar perigoso um contato tão íntimo e desejado.
É neste contexto que o Dia do Abraço é celebrado nesta sexta-feira (22).
“O gesto de afeto ancestral, importante para o reino animal e para a nossa humanidade”, como define a atriz Inês Peixoto, se tornou mais raro e cercado de cuidados. Em alguns lares, hoje, o abraço é antecedido por rituais de higienização. Neste momento, afinal, “o distanciamento social é o maior afeto que podemos ter uns pelos outros”, completa ela.
“Este é, provavelmente, o dia do abraço mais sem abraços do mundo”, comenta o poeta e cronista Fabrício Carpinejar, que se diz fã do gesto. “Para mim, é uma cadeira de balanço: quando abraço alguém, tem que ter movimento, ir de um lado para o outro. Não gosto daquele abraço de bater nas costas, a gente não é porta para ficar batendo”, brinca.
Enquanto o mundo tateia o futuro e busca antever como será a vida cotidiana quando a crise mais aguda provocada pela pandemia passar, o temor que abraços se tornem artefatos raros assombra.
“Eu fico pensando: que mundo é esse, que estamos deixando para os que vêm depois de nós, onde o abraço pode representar um gesto de perigo?”, questiona Inês. “A gente vai precisar, de uma certa forma, abraçar com os olhos, abraçar com as palavras, abraçar com os elogios”, sugere Carpinejar.
O que diz a ciência
O gesto libera hormônios ligados a sensações de bem-estar e tranquilidade, principalmente a ocitocina, conhecida como hormônio do amor. “Também ajuda a diminuir os níveis de cortisol e aumentar a liberação de endorfinas, o que pode, consequentemente, melhorar o sistema imunológico, diminuir a frequência cardíaca e a pressão arterial – principalmente em mulheres”.
O abraço permite uma sensação de segurança e conforto “quando reagimos a experiências dolorosas, pois diminui a estimulação de áreas cerebrais relacionadas ao medo”, cita a psiquiatra.
Abraçar a si mesmo
E, mesmo com a pandemia e respeitando as regras de distanciamento social, existe uma forma de se acalmar quando estiver tenso, preocupado ou com medo: basta dar-se um abraço.
No começo, pode parecer um pouco estranho, reconhece ela. Mas, garante, o nosso corpo vai responder ao gesto físico de calor e de cuidado assim como um bebê responde quando está seguro nos braços da mãe. “Pesquisas indicam que o contato físico promove a liberação de ocitocina e proporciona sensação de segurança. Então, por que não tentar?”, provoca.
Cada um vai encontrar um modo em que vai se sentir mais confortável, diz, complementando que “o importante é proporcionar a você mesmo um gesto claro que transmita sentimentos de amor, cuidado e ternura, o que é especialmente importante neste período em que estamos passando”.
O tempo.