Tenho que engolir o choro: médica relata medo e hostilidade diante da Covid

“Eu estou cansada” é a primeira frase dita pela médica Gabriela Pastana, 26 anos, na conversa. Ela, que é clínica geral e atende no Hospital Estadual da Vila Alpina, Zona Leste de São Paulo, é mais uma profissional da saúde que sofreu uma mudança drástica na sua rotina de trabalho por causa do avanço do coronavírus.

A médica tinha acabado de voltar de um plantão de 24 horas quando nos atendeu. Ela atua na ala semi-intensiva do hospital reservada a pacientes de Covid-19 e, desde que a pandemia começou, tem encarado rotinas exaustivas de trabalho, atendendo cerca de seis vezes por semana, em plantões que variam de 12 a 24 horas.

“Todos os meus colegas médicos estão muito abalados. Morrendo de medo. Às vezes, só queria estar em casa em paz, sem saber de medicina por uns dias. O médico tem sempre essa carga de ser o líder, de dar a notícia, de lidar com complicações”, diz a médica.

Pensando nas condições psicológicas de quem está da linha de frente do combate à Covid-19, o Ministério da Saúde liberou uma cartilha de cuidados com a saúde mental de médicos, enfermeiros e outros profissionais da área. Entre as recomendações está reduzir a carga de informações lidar diariamente, o que, para Gabriela, é quase impossível: “Todo dia sai um artigo novo sobre o vírus, uma resolução a qual temos que nos adaptar. Todo dia é discussão de caso, a gente precisa se informar, ou o paciente sofre. A nossa cabeça não para.”

A cartilha também orienta “substituir os pensamentos catastróficos por pensamentos realistas”. Para Gabriela, que vive em um ambiente de tensão e, além de lidar com a vida de estranhos, também precisa se proteger e cuidar da saúde de colegas, controlar os pensamentos catastróficos é uma tarefa quase tão exaustiva quanto o trabalho em si.

“Toda vez que eu tenho que fazer uma declaração de óbito de Covid eu já fico tensa, torcendo para que a família me entenda, Sei que é uma situação muito dura para os familiares. Mas a primeira pergunta que eles fazem é ‘eu posso ver’? E a resposta é: não, não pode. É lei. E quem segura a onda são os médicos”, fala Gabriela.

Uol.

prima

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