Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, relata que “milhões de mulheres passam parte de suas vidas fazendo trabalho doméstico e de cuidado, sem remuneração e sem acesso a serviços públicos que possam ajudá-las nessas tarefas tão importantes”.
Os dados, contemplados pela pesquisa Tempo de Cuidar, divulgado às vésperas do Fórum Econômico em Davos, na Suíça, substanciam a realidade de que mulheres são, comprovadamente, as mais afetadas pelas desigualdades mundiais.
Cuidar de familiares, cozinhar ou limpar são tarefas essenciais, mas “a pesada e desigual responsabilidade do trabalho de cuidados que recai nas mulheres perpetua tanto as desigualdades econômicas quanto a desigualdade de gênero”, diz a ONG.
“As mulheres estão na primeira fila das desigualdades devido a um sistema econômico que as discrimina e as aprisiona nos ofícios mais precários e menos remunerados, a começar pelo setor de cuidados”, diz Pauline Leclère, porta-voz da Oxfam France, citada em comunicado.
De acordo com Amelia Gonzalez, jornalista do G1, “a questão é que esta é uma das faces da desigualdade que vem se perpetuando no tempo. O trabalho das mulheres que cuidam, não só dos idosos como das crianças, embora seja crucial para o desenvolvimento de um país – como imaginar um alto executivo sem alguém na retaguarda, cuidando de sua casa e família, dando-lhe tranquilidade para tomar decisões importantes? – vem sendo recorrentemente subestimado”.
O relatório ainda aponta que enfermeiras, trabalhadoras domésticas e cuidadoras são, em geral, mal pagas e trabalham em horários irregulares, além de sofrerem problemas físicos e emocionais.
A situação certamente se agravará na próxima década, conforme a população mundial aumenta e envelhece. 2,3 bilhões de pessoas precisarão de cuidados em 2030 – um aumento de 200 milhões desde 2015. No Brasil, em 2050, serão cerca de 77 milhões de pessoas dependentes de cuidados, entre idosos e crianças, segundo dados do IBGE.
De acordo com estudos da Oxfam, esse nicho de trabalho agrega em média US$ 10,8 trilhões à economia, revertidos como benefícios financeiros para os mais ricos, que em grande parte são homens.
Fonte: Mulheres 360.