Influenciar o tema da diversidade e inclusão na cadeia de fornecedores é um desafio para as empresas. Pesquisa feita pelo Guia EXAME Diversidade 2018 apontou que apenas 32% das organizações estimulam o empreendedorismo de grupos poucos representados.
“A cadeia de fornecimento, por muitos anos, ficou de fora do debate de diversidade e inclusão no setor privado. Quando falamos de diversidade às empresas, o conceito e as práticas tendem a se restringir à dimensão de recursos humanos ou temas relacionados comunicação e publicidade”, explica a gerente de engajamento corporativo para América Latina e Caribe da WEConnect International, Natália Torres.
“Sabemos que ambientes diversos tendem a gerar mais inovação e competitividade. Essa lógica se aplica a qualquer segmento da cadeia de valor. Como diz nossa CEO: como saber se está fazendo negócios com os melhores fornecedores se metade da população mundial (mulheres) está sendo excluída desse processo?”, complementa.
Em entrevista ao Movimento Mulher 360, a executiva fala sobre os benefícios de se ter uma rede de fornecedores diversa e como essa prática ajuda a fortalecer o mercado consumidor da própria empresa. Confira.
MM360 – Por que alcançar a equidade na cadeia de valor é um desafio para a maioria das empresas?
Bom, acredito que o primeiro desafio é de ordem conceitual. A cadeia de fornecimento, por muitos anos, ficou sempre de fora do debate de diversidade e inclusão no setor privado. Quando falamos de diversidade às empresas, o conceito e as práticas tendem a se restringir à dimensão de recursos humanos (como recrutamento, política salarial, etc.) ou temas relacionados à comunicação e publicidade. A mudança em curso nestas áreas é extremamente animadora, mas ainda há muito o que fazer, visto que é através do alcance e capilaridade das cadeias de fornecimento que as grandes empresas podem gerar seu maior impacto, dinamizando a economia de maneira exponencial e beneficiando de maneira sustentável marcos sociais, historicamente excluídos das redes convencionais de negócios.
A dificuldade está, naturalmente, no fato de que programas de Diversidade e Inclusão de Fornecedorxs influenciam a forma como é gasto um dos maiores orçamentos da empresa e introduz novas variáveis ao processo de decisão em compras. Setores que sempre tiveram que lidar duras metas de “savings”, agora têm de repensar sua lógica e passar a contribuir com metas menos frias, que levam em conta o papel social da companhia como agente de transformação econômica.
E isso exige que compradores e clientes internos dediquem-se agora a conhecer mais sobre o perfil social dos fornecedorxs – o que muita vezes era até então desconhecido – e tenham essa dimensão em conta juntamente com os elementos de custo e qualidade, que, diga-se de passagem, seguem sendo critérios igualmente essenciais.
MM360 – Como é possível reverter esse cenário?
É uma mudança cultural grande e que, naturalmente, leva tempo e exige esforços de sensibilização, apoio da liderança, desdobramento de metas e, principalmente, desconstrução de vieses inconscientes.
Um estereótipo que precisa ser desconstruído, por exemplo, é de que empresas de mulheres são pequenas e pouco competitivas. Na média nacional, é fato que os empreendimentos de mulheres estão em setores de menor produtividade, mas há milhares delas atuando em setores de ponta e com ampla capacidade de atender demandas de multinacionais. Na rede WEConnect International temos vários exemplos de empresas como estas. E, se ainda há alguma lacuna, gerar demanda e dar oportunidade a estas empresárias é justamente o que fará essa desigualdade acabar.
MM360 – Quais os benefícios de se optar por uma rede de fornecedores diversa?
Além de ser ético e justo, diversificar a cadeia de fornecimento traz enormes benefícios aos negócios. Primeiramente, sabemos que ambientes diversos tendem a gerar mais inovação e competitividade. Essa lógica se aplica a qualquer segmento da cadeia de valor. Como diz nossa CEO: como saber se está fazendo negócios com os melhores fornecedores se metade da população mundial (mulheres) está sendo excluída desse processo?
Além disso, o maior business case está relacionado com o poder de compras das mulheres. Não faz sentido que elas controlem mais de 85% das decisões de compras e que tenham menos de 1% de representatividade nas cadeias de fornecimento globais. Empoderar empresas de mulheres é, no final das contas, fortalecer o mercado consumidor da própria marca.
MM360 – Cite algumas dicas para que empresas, que já atuam com políticas de equidade e inclusão com seus colaboradores, possam estender esse tema na hora de contratar um serviço externo.
Começar a se interessar pelo perfil do/a fornecedora é o primeiro passo. Entender como é o quadro atual (linha de base) e estabelecer flags no registro dos vendors é um exercício bastante útil. Sugiro também pilotar o programa em categorias mais fáceis no início e, depois, expandir para categorias mais complexas.
MM360 – Como a atuação da WEConnect International está relacionada com esse tema e contribui para que o mercado progrida?
Acredito que atuar em rede e aprender com os pares é essencial. A WEConnect International é uma aliança global de 90 multinacionais que foi criada, justamente, para que grandes empresas possam unir esforços para identificar fornecedoras de diversidade qualificadas e compartilhar boas práticas em nível local e global. A plataforma oferece uma base de dados virtual com informação de mais de 8 mil empresas de propriedade e controle de mulheres, que pode ser acessada em tempo real pelos compradores. Também oferecemos serviço de recrutamento personalizado, sempre que o perfil de fornecedora não for encontrado na base. Além disso, organizamos encontros, rodadas de negócios, treinamento para empresárias e compradores, benchmarking e certificamos as empresas quando solicitado.
Fonte: +Mulher360