Nordestino: de Maria Bonita a Marta, conheça dez mulheres do Nordeste que mudaram a História do Brasil com sua coragem

Elas foram pioneiras em suas áreas de atuação, se destacaram pela coragem de estar em atividades antes restritas aos homens e também por defenderem os direitos das mulheres e das trabalhadoras.

Marta se recusou a renovar seu contrato de patrocínio, há 11 meses, por achar o valor oferecido muito baixo. Ela se engajou em campanha por igualdade de salários entre homens e mulheres Foto: Arte sobre foto
Marta se recusou a renovar seu contrato de patrocínio, há 11 meses, por achar o valor oferecido muito baixo. Ela se engajou em campanha por igualdade de salários entre homens e mulheres Foto: Arte sobre foto

Ontem foi dia 8 de outubro, Dia do Nordestino. Mas, em CELINA , o dia é das mulheres nordestinas . De Madalena Caramuru, que no século XVI pedia a educação das mulheres, à super craque Marta, eleita seis vezes a melhor jogadora de futebol do mundo, são muitas as nordestinas que se destacaram pelo pioneirismo em suas atividades, pela coragem de estar em atividades até então restritas aos homens ou por terem lutado pelos direitos das mulheres . Elas são tantas que não cabem em nenhuma lista. Mas estão todas, de alguma forma, aqui homenageadas através das dez nordestinas que celebramos abaixo.

Madalena Caramuru

Imaginem o que era ser mulher no Brasil Colônia, em pleno século XVI. Madalena era filha do português Diogo Álvares Correia, o Caramuru, e da tupinambá Paraguaçu. Nasceu na Bahia, em data não registrada pela História oficial. Sabe-se que se casou, em 1534, com o português Afonso Rodrigues, que a alfabetizou.

Uma vez que aprendeu a ler e a escrever, ela escreveu ao jesuíta Manuel da Nóbrega, pedindo que as mulheres tivessem direito à educação. Madalena também pediu que terminassem os maus-tratos à crianças indígenas e ofereceu ajuda financeira para que os padres levassem suas ideias adiante.

Infelizmente, os planos de Madalena não foram colocados em prática pelos colonizadores portugueses. Mas isso foi só um atraso. Como se sabe, hoje, as mulheres são a maioria nas universidades brasileiras.

Esperança Garcia

Representação de Esperança Garcia Foto: Reprodução
Representação de Esperança Garcia Foto: Reprodução

Nascida em uma propriedade dos jesuítas no que hoje é o Piauí, Esperança foi escravizada. em 1770, escreveu uma carta ao governador da Capitania de São José do Piauí relatando violências e pedindo justiça. Por esta “petição”, o conselho piauiense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) concedeu a ela, quase 250 anos após a corajosa carta, o título de “primeira mulher advogada do Piauí”.

Maria Firmina dos Reis

Nascida em São Luís do Maranhão, em 1825, era professora. Em 1859 publicou o livro “Úrsula”, que fez dela a primeira mulher romancista brasileira. Em 1880, fundou uma escola n oMaranhão onde meninos e meninas estudavam juntos — o acesso era gratuito. Em 1887, publicou “A escrava”, em que afirmava sua posição contrária à escravização dos negros. Respeitada como intelectual e com artigos publicados nos jornais da época, teve a data de seu aniversário — 11 de outubro — escolhida como o Dia da Mulher Maranhense.

Maria Bonita

Maria Gomes de Oliveira era conhecida como Maria de Déa e só após sua morte virou Maria Bonita Foto: Benjamin Abrahão
Maria Gomes de Oliveira era conhecida como Maria de Déa e só após sua morte virou Maria Bonita Foto: Benjamin Abrahão

Maria Gomes de Oliveira foi a primeira mulher a participar de um bando de cangaceiros ficou conhecida como “Rainha do Cangaço”. Nascida na Bahia (1911), foi companheira de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Os dois morreram em Sergipe (1938), quando o grupo foi atacado pela “volante”, a polícia armada. Entre sua família e também entre os cangaceiros era conhecida como Maria da Déa. Foi só depois de sua morte que ganhou o apelido de Maria Bonita, possivelmente dado por jornalistas cariocas inspirados pelo filme homônino, lançado no ano anterior e baseado na obra de Afrânio Peixoto.

Nísia Floresta

Nísia Floresta Foto: Reprdodução
Nísia Floresta Foto: Reprdodução

A pioneira feminista brasileira Nísia Floresta nasceu em 1810 em um município que então se chamava Papari, no Rio Grande do Norte. Hoje, a cidade ganhou outro nome: Nísia Floresta, em homenagem à filha ilustre. Ela morreu em Rouen, na França, em 1885.

Na certidão de batismo, o nome era Dionísia Pinto Lisboa. Mas a escritora e intelectual optou por um “nome artístico”, que ultrapassou as fronteiras do Brasil. Ela é autora do livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens”, lançado em 1832.

Entre as lutas de Nísia como intelectual, estão a educação das mulheres, a abolição da escravidão e a liberdade religiosa — aspectos tão caros à sociedade atual.

Nise da Silveira

Nise da Silveira Foto: Ana Branco/25-07-1996
Nise da Silveira Foto: Ana Branco/25-07-1996

Todo mundo só pensava em lobotomia e eletrochoque para tratar pacientes psiquiátricos. Mas Nise da Silveira via essas técnicas com absoluto horror : ela defendia um sensível trabalho com o inconsciente, com terapia baseada em ateliês de costura, marcenaria e pintura. Por muito tempo, foi ridicularizada, desmoralizada e sabotada por seus pares. Até que o mundo se rendeu aos seus ensinamentos, que se mostraram muito mais eficazes no tratamento psiquiátrico.

“Antes eu era louca, agora estou na moda”, disse Nise em entrevista ao “Jornal do Brasil” publicada em 30 de agosto de 1990.

Alagoana, ela nasceu em Maceió em 1905. E morreu no Rio de Janeiro em 1999. A mãe queria que Nise fosse pianista, mas ela decidiu ser médica. Na turma da Faculdade de Medicina da Bahia (1921-1926), era a única mulher entre 157 alunos. Já naquela época, Nise tinha preocupação especial com quem estava à margem da sociedade: sua monografia de conclusão de curso foi sobre a criminalidade feminina no Brasil. A psiquiatra ficou conhecida em todo o planeta e inspirou a criação de museus e centros de saúde que trabalham com cultura.

Marta

No país do futebol, terra de Pelé, Zico e Romário, não é um homem o mais premiado. A alagoana Marta é considerada a melhor jogadora da História do futebol feminino e já ganhou o prêmio de Melhor do Mundo da Fifa seis vezes, de 2006 a 2011. Foi indicada 12 vezes em 13 anos. É também a maior artilheira da Seleção brasileira — tem mais gols com a amarelinha que Pelé.

Marta e sua chuteira da campanha 'Go equal' Foto: Reprodução/Instagram
Marta e sua chuteira da campanha ‘Go equal’ Foto: Reprodução/Instagram

Nascida em Dois Riachos (AL), em 1986, é caçula de seis filhos criados pela mãe, depois que o pai abandonou a família. Marta só passou a frequentar a escola aos 9 anos de idade, mas aos 6 já jogava futebol em um campo improvisado debaixo da ponte. Em meio ao conservadorismo do Sertão alagoano, era chamada de “mulher-macho” pelas ruas de sua cidade por conta do amor pelo futebol.

Hoje, tem inúmeras medalhas (incluindo ouro nos jogos Pan-americanos de 2003 e 2007, prata nas Olimpíadas de 2004 e 2008 e o segundo lugar no Mundial de 2007) e é Embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas (ONU), em que atua no combate à pobreza e pela emancipação feminina.

Margarida Alves

Margarida Maria Alves Foto: Reprodução de vídeo
Margarida Maria Alves Foto: Reprodução de vídeo

A paraibana comandou durante dez anos o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande. Lutou pelo fim da violência no campo, por direitos trabalhistas — como respeito aos horários de trabalho, carteira assinada, 13º salário e férias remuneradas. Também foi a responsável por mais de cem ações trabalhistas na Justiça do Trabalho regional, isso em plena ditadura militar. Em 1983, Maragarida foi assassinada a mando de latifundiários. Até hoje, ninguém foi responsabilizado pela morte.

Em sua homenagem, a cada três anos — desde o ano 2000 — acontece a Marcha das Margaridas . Agricultoras familiares, ribeirinhas, quilombolas, pescadoras, extrativistas, camponesas, mulheres indígenas, pescadoras e todas aquelas envolvidas com o cenário rural se reúnem para um protesto em busca de mais políticas públicas voltadas para as trabalhadoras da área rural, entre elas o combate à pobreza e à violência contra a mulher.

Lia de Itamaracá


A cantora Lia de Itamacará
Foto: Divulgação
A cantora Lia de Itamacará Foto: Divulgação

A maior cirandeira do Brasil se chama Maria Madalena Correia do Nascimento. Mas foi como Lia de Itamaracá, em referência à ilha pernambucana onde nasceu, que a cantora, compositora e dançarina de ciranda, se tornou célebre. Tem os títulos de Patrimônio Vivo de Pernambucano, dado pelo governo do estado, e da Doutora Honoris Causa, dado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recebeu também a Medalha do Mérito Cultural, dada pelo Ministério da Cultura do Brasil.

Nascida em 1944, foi merendeira escolar na rede estadual de ensino. Começou a ficar conhecida como cirandeira e também a ser chamada Lia de Itamaracá nos anos 1960. Seu primeiro disco foi lançado em 1977, quando ela já era conhecida em Pernambuco. Mas foi apenas 20 anos depois que Lia, depois de participar de umafestival, se tornou conhecida em todo o Brasil e também internacionalmente. 

Rachel de Queiroz

A escritora Rachel de Queiroz Foto: Paula Johas / Arquivo O Globo
A escritora Rachel de Queiroz Foto: Paula Johas / Arquivo O Globo

Escritora, jornalista, tradutora e dramaturga, foi pioneira na literatura brasileira. Foi a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras, em 1977, e também a primeira a receber o prêmio Camões, o mais importante da Língua Portuguesa, em 1993.

Autora de “Quinze”, em que conta a luta dos nordestinos contra a seca e a miséria, “Três Marias” e de “Memorial de Maria Moura”, em que narra a trajetória de um cangaceira, a escritora brilhante uma mancha em sua biografia: apoiou a ditadura militar brasileira, quando integrou o Conselho Nacional de Cultura e o diretório nacional da Arena, partido que sustentava o regime.

Fonte: O Globo

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